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Administrador Legal: fique de olho nessa profissão

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Submitted by eopen on ter, 17/07/2018 – 14:19 por Chantal Brissac (Edição Nº 54)Foi a partir dos anos 90 que a advocacia se transformou em um negócio bastante lucrativo no Brasil. Os grandes escritórios passaram a se posicionar como empresas estruturadas, faturando alguns milhões de reais por mês, enquanto os pequenos e médios ganhavam autonomia e aumentavam seus lucros. Os advogados começaram a sentir que não era possível cuidar dos clientes e dos negócios jurídicos, ao mesmo tempo em que administravam os escritórios. Era preciso um profissional com formação e perfil de administrador para assumir a importante tarefa. Foi nessa fase que surgiram os primeiros administradores legais, profissão que vem crescendo atualmente.A administradora Anna Luiza do Amaral Boranga é a pioneira. Em 1989, ela foi contratada pelo escritório de advocacia Tozzini e Freire Teixeira e Silva Advogados, em São Paulo (???), para assumir a função de administradora legal. “Fui a primeira profissional do Brasil e a primeira filiada à ALA (Association of Legal Administrator), nos Estados Unidos”, diz Anna Luiza, lembrando que sua contratação aconteceu devido à grande visão do diretor do escritório, que sabia da importância do trabalho. Na época, Anna Luiza era uma avis rara no mercado. “Os colegas administradores achavam curiosíssima a minha função”, lembra. Era puro desconhecimento. O trabalho do administrador legal envolve várias e importantes responsabilidades, que antes eram assumidas pelos sócios do escritório. Dessa forma, o profissional libera os advogados para que advoguem e cuidem dos clientes, e administram o escritório como um todo, trabalhando em áreas como a da tecnologia, do orçamento e da previsão, do planejamento estratégico, do marketing, dos recursos humanos, entre outras atividades que envolvem a administração do negócio.Trabalho não falta, garante Anna Luiza. “Há um mercado aberto e em ascensão para administradores recém-formados ou com mais experiência”, diz a consultora jurídica, que também é coordenadora do curso de Gestão de Serviços Jurídicos da FGVSP – Gvlaw e professora do Ibmec-RJ do curso de Direito Empresarial. Mas os jovens ainda não descobriram essa gorda fatia. Quem está no mercado é gente de mais experiência, como o administrador Luís Fernando Falcão, diretor administrativo do escritório Araújo e Policastro Advogados, em São Paulo. “A profissionalização dos escritórios é uma realidade”, diz Luís Fernando. “Hoje, todos os grandes já têm seus administradores legais, falta aos escritórios médios e pequenos essa reestruturação, fundamental para o sucesso dos seus negócios”. Alguns advogados, porém, ainda torcem o nariz para essa nova função. Acham que podem dar conta do escritório sozinhos e que a presença de um profissional de outra área dentro de seu domínio irá atrapalhar. A consultora jurídica Lara Cristina de Alencar Salem lembra que, antes que o administrador seja contratado, é preciso assegurar que os advogados estejam prontos e dispostos a renunciar suas responsabilidades operacionais cotidianas, e que a cultura do escritório apóia um passo nessa direção. “É fundamental que os sócios do escritório visualizem esse papel como vital para o sucesso do negócio”, diz Lara. A partir daí, o administrador legal pode operar com a máxima eficiência e assim trazer alto nível de lucratividade. “O profissional incorpora técnicas de gerenciamento à prática profissional da advocacia”, assegura Lara. Por isso, não é difícil prever que o campo da Administração Legal tem bastante espaço para crescimento no Brasil, onde há meio milhão de advogados inscritos nas OABs (Ordem dos Advogados do Brasil) estaduais. A profissão oferece desafio intelectual, oportunidade econômica e satisfação profissional, além de possuir um papel fundamental para assegurar que o escritório realize sua efetiva missão: ter sucesso e lucratividade. Como lembra a consultora jurídica Lara Salem, que também ministra palestras sobre o tema, a comunidade jurídica está em processo de mudança. “Já é possível afirmar que as organizações que não se adaptarem para acompanhar as mudanças falharão ou, ao menos, não prosperarão. Depende do administrador legal criar competência, demonstrar capacidade e agarrar a oportunidade. Ele tem que se armar com ferramentas apropriadas, com graus de estudo avançados e educação continuada, que demonstrem conhecimento e compromisso com esta nova profissão, para assumir esse encargo e fazer as coisas acontecerem”, diz.Como chegar lá?A hora, portanto, é agora! Mas como fazer para se tornar um administrador legal? Além de ser formado em Administração de Empresas, é preciso contar com alguma experiência na área jurídica e complementar a formação específica. É louvável, também, que o profissional conheça o serviço jurídico prestado pelo escritório e entenda a atividade como um todo, bem como tenha experiência em operações empresariais, como recursos humanos, tecnologia, instalações, finanças e marketing. Nos Estados Unidos, há inúmeros cursos de graduação e pós-graduação de gestão de serviços jurídicos. O curso de Master of Science in Legal Administration oferecido pela University of Denver College of Law e os da Eastern Michigan University são os mais procurados. Também vale destacar o programa de certificação oferecido pela ALA (Association of Legal Administrator), chamado Certified Legal Manager (CLM), que visa assegurar que a educação seja pertinente às demandas da profissão de administrador legal. No Brasil, são poucos os cursos disponíveis: o curso de extensão de Gestão de Serviços Jurídicos, oferecido em São Paulo pela FGV-EDESP é o mais importante. No Rio de Janeiro, o Ibmec oferece uma matéria sobre gestão de serviços jurídicos no curso de pós-graduação de direito empresarial. Como se vê, a formação ainda é incipiente, mas nada impede o profissional de assumir suas funções nesse mercado ainda pouco explorado. Campo aberto O administrador legal tem largo campo de atuação: escritórios de advocacia, departamentos jurídicos corporativos e departamentos jurídicos governamentais. Nos escritórios de pequeno porte, sua figura pode se confundir com a do sócio advogado, que costuma assumir a função. Já nos de médio e grande porte, sua presença é essencial, pois ele é a pessoa envolvida com todos os aspectos empresariais do escritório (planejamento estratégico e sua implementação, desenvolvimento do negócio, recrutamento, gerenciamento da prática jurídica, finanças, tecnologia, recursos humanos e instalações), e ainda com o gerenciamento cotidiano das operações do negócio.Assim, o perfil do profissional deve ser de um planejador que fique atento às necessidades da organização em que trabalha, bem como às estratégias de crescimento. Hoje, com as demandas do marketing, também é esperado que os profissionais tenham conhecimento dessa área. Em relação às habilidades do administrador legal, ele deve saber gerenciar as funções do escritório econômica e eficientemente, organizar o trabalho, estabelecer prioridades e construir boas relações interpessoais e de comunicação com os advogados e o pessoal de apoio. Espírito de liderança, organização, habilidade para delegar também são características fundamentais para o sucesso da função. Além disso, é necessário saber administrar não só o lado operacional do escritório, como também o humano, driblando conflitos das equipes e retendo os talentos na empresa.Como tudo começouNos Estados Unidos, a figura do legal administrator, ou do administrador legal (como foi batizado no Brasil), existe há mais de 30 anos. É interessante pontuar que em 1971 foi fundada a Association of Legal Administrators (ALA), cuja missão é melhorar a qualidade da administração em organizações prestadoras de serviços jurídicos, promover e enaltecer a competência e o profissionalismo dos administradores legais e todos os membros da equipe administrativa de escritórios de advocacia, departamentos jurídicos corporativos e governamentais, bem como representar a profissão de administrador legal perante a comunidade jurídica e a comunidade como um todo. Atualmente, a ALA está presente em 27 países e conta com cerca de 9.500 membros, sendo 94% nos Estados Unidos. No Brasil, quem impulsionou o desenvolvimento da carreira foi o escritório Tozzini e Freire Teixeira e Silva Advogados, em São Paulo, contratando, em 1989, a administradora Anna Luiza do Amaral Boranga para assumir a função. Com o boom da advocacia a partir dos anos 90, aconteceu uma demanda por serviços jurídicos diferenciados. Afinal, a presença do Brasil no cenário do comércio internacional e no circuito de investimentos estrangeiros tem levado ao surgimento de novas áreas e novos tipos de advocacia. Isso fez com que os escritórios jurídicos se profissionalizassem, contratando administradores para dar conta de funções gerenciais, financeiras, de recursos humanos, tecnológicas, com departamentos variados, como ocorre em uma grande empresa. Grandes escritórios de advocacia apresentam hoje essa estruturação variada, com diretores de diversas áreas.Para saber maisAlém dos cursos, é importante se unir a profissionais que trabalham na área, como os que formam o Ceae, associação de profissionais que se dedicam à gestão de serviços jurídicos em escritórios de advocacia e departamentos jurídicos de empresas. Fundado em maio de 2003, congrega titulares e sócios de escritórios, dirigentes de departamentos jurídicos, administradores legais, consultores e professores de cursos voltados para a área de Gestão de Serviços Jurídicos. A entidade promove palestras mensais proferidas por profissionais especializados na área. Nesses encontros, são expostos e debatidos assuntos de natureza administrativa de serviços jurídicos em áreas como finanças, planejamento estratégico, marketing, recursos humanos, tecnologia de informação e qualidade. Site: www.ceae.org.br Fonte Vencer.com

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